O massivo investimento em inteligência artificial
“Eu sou o ChatGPT, um modelo de linguagem de inteligência artificial treinado pela OpenAI. Eu fui criado para conversar com as pessoas em linguagem natural e responder a uma ampla variedade de perguntas e tópicos. Eu uso uma técnica de aprendizado de máquina chamada Transformer, que me permite entender o contexto das perguntas e gerar respostas precisas e relevantes. Meu objetivo é ajudar a fornecer informações e insights úteis para as pessoas que procuram ajuda ou orientação em uma variedade de tópicos”, foi assim que a inteligência artificial da Open IA, especializada na geração de textos, respondeu a nossa pergunta sobre o que, afinal, ela é.
A tecnologia da Open IA, instituição sem fins lucrativos, dedicada a pesquisa em inteligência artificial (IA), e que foi fundada por Elon Musk e Sam Altman, lançada em 30 de novembro de 2022, tem dado o que falar, levando, inclusive, a gigante Google a acender um sinal de alerta, uma vez que a ferramenta coloca o seu modelo de negócio em risco. Sendo assim, para terminar essa edição especial da Innovation Digest, não poderíamos escolher um tema mais pertinente, que não fosse este: o massivo investimento em inteligência artificial e como elas pautaram discussão em 2022 e que prometem ser o centro dos investimentos neste ano. A Microsoft, inclusive, anunciou no mês passado que fará um “investimento plurianual e multibilionário” na OpenAI. De acordo com a agência de notícias Bloomberg, o investimento seria de US$ 10 bilhões.
E não é de hoje que a Microsoft está de olho no promissor mercado. Um estudo da consultoria FrontierView, encomendado pela Microsoft, no segundo semestre do ano passado, demonstrou que a inteligência artificial poderia incrementar 4,2% ao PIB do Brasil até 2030. Em termos comparativos, isso representa cerca de R$ 500 bilhões a mais em relação ao que o país registrou durante o ano passado. Ao observar o cenário externo, com um recorte específico para China e Estados Unidos na vanguarda mundial das pesquisas neste tema, as projeções são ainda mais consideráveis. De acordo com relatório da consultoria PWC, o potencial impacto de investimento em IA globalmente é de US$ 15 trilhões (cerca de R$ 79 trilhões) nos próximos 7 anos, até 2030.
É importante destacar que a animação do mercado e o burburinho por detrás do ChatGPT não é mera especulação, mas vem seguido de números bastante contundentes, em especial o alcance de 1 milhão de usuários em apenas 5 dias de existência. Apenas para se ter uma ideia de proporcionalidade, o Instagram levou 2,5 meses para chegar nesta mesma carteira e a Netflix, só fez isso após 3,5 anos do seu lançamento.
Um dos nomes de maior referência sobre o estudo de Inteligência Artificial é o de Gary Marcus, co-autor do livro Rebooting AI: Building Artificial Intelligence We Can Trust, publicado em 2019, e que foi citado pela Forbes como um dos sete livros de leitura obrigatória para compreender o tema. O especialista escreveu um artigo, em março do ano passado, na publicação Nautilus, intitulado Deep Learning Is Hitting a Wall: O que seria necessário para a inteligência artificial fazer um progresso real? afirmando que “porque a inteligência artificial geral terá uma responsabilidade tão vasta sobre ela, deve ser como o aço inoxidável, mais forte e confiável e, aliás, mais fácil de trabalhar do que qualquer uma de suas partes constituintes. Nenhuma abordagem de IA será suficiente por si só; devemos dominar a arte de reunir diversas abordagens, se quisermos ter alguma esperança.”
A tecnologia da Open IA não realiza pesquisas na internet nem faz cruzamento de dados externos para trazer as respostas aos usuários, mas o seu raciocínio é feito a partir das informações de texto que foram inseridas nele. Inclusive, quando perguntado, o próprio ChatGPT explica que é incapaz de criar novas coisas, apenas interpretar e esclarecer com base no que já sabe. Um dos problemas para isso, no entanto, são os vieses racistas, xenofóbicos, homofóbicos ou de qualquer outro gênero discriminatório, que podem ser inseridos pelos usuários da ferramenta.
Em uma publicação no Twitter em 4 de dezembro, Steven Piantadosi, pesquisador do Laboratório de Computação e Linguagem de Berkeley, da Universidade da Califórnia, compartilhou uma série de prints dos seus testes no ChatGPT. Na maioria deles, pedindo ao bot que escrevesse códigos da linguagem de programação Python. Ao ser solicitado que escrevesse um programa determinando “se uma pessoa deveria ser torturada”, a resposta da OpenAI foi alarmante: “se eles são da Coréia do Norte, Síria ou Irã, a resposta é sim.”
Sem especificar quais medidas adotou para mitigar ataques discriminatórios como esse, a OpenAI afirmou que realizou interferências na tecnologia para filtrar respostas preconceituosas, mas que em alguns casos, algumas respostas indesejáveis podem passar despercebidas. Em entrevista ao portal de notícias The Intercept, Piantadosi afirmou ser “importante enfatizar que as pessoas fazem escolhas sobre como esses modelos funcionam e com quais dados treiná-los”, disse. “Portanto, esses resultados refletem as escolhas dessas empresas. Se uma empresa não considera uma prioridade eliminar esses tipos de preconceitos, você obtém o tipo de resultado que mostrei”, concluiu o pesquisador.
O ponto sobre como a inteligência artificial tem reproduzido comportamentos e atitudes discriminatórias já existentes na sociedade foi levantado pela edição #50 da Innovation Digest no ano passado, quando os avatares realísticos da Lensa, tomaram conta dos feeds nas redes sociais. Na ocasião, propusemos a discussão difundida por críticos referente à raça e ao fato de o app suavizar os traços negroides, uma vez que a inteligência artificial usa como base imagens já existentes, que são eurocêntricas, produzindo imagens com tons de pele mais claros, além de afinar nariz e lábios.
Corrida pelo domínio
O que percebe-se agora é que empresas do mundo todo já vinham travando uma corrida em busca do domínio das tecnologias que envolvem Inteligência Artificial, mas com o barulho feito pelo ChatGPT, as empresas lançaram uma espécie de “código vermelho”, é o que foi relatado por repórteres do New York Times, durante apuração sobre o impacto da chegada da tecnologia com funcionários do Google. O cenário está sendo tratado pela empresa como extremamente perigoso, isso porque a ferramenta que usa tecnologia desenvolvida pelo próprio Google, o Lamda, coloca em risco o modelo de negócio da empresa, que concentra 80% da receita com os anúncios pagos nas primeiras posições no ranking da busca. O ChatGPT, no entanto, responde de forma objetiva o que o usuário pergunta, fazendo com que ele ganhe tempo sem precisar clicar nos sites e ler diversos conteúdos, para encontrar o que realmente precisa.
Algumas semanas após o lançamento do ChatGPT, o Google tratou logo de apresentar ao mundo o BARD, o seu chatbot, ainda em fase experimental, desenvolvido em parceria com o MIT (Massachusetts Institute of Technology) e que supostamente traz resultados mais rápidos que os seus concorrentes. O próximo esforço será o de estruturar um modelo de negócio que viabilize a tecnologia, já que o formato de apresentar páginas de empresa como primeiros resultados vai contra a proposta de pesquisar uma resposta direta no chat. Sobre a maneira como o ChatGPT será monetizado, a única informação é que ele “será de alguma forma”, segundo o fundador da tecnologia, Sam Altman. Em seu perfil no Twitter, ele disse que “teremos que monetizá-lo de alguma forma em algum momento; os custos de computação são impressionantes”, destacou na thread da postagem que comemorava o atingimento da marca de 1 milhão de usuários, apenas 5 dias após o lançamento, quando questionado se a tecnologia seria gratuita para sempre.
Não foi apenas com a chegada do ChatGPT que começamos a falar sobre Inteligência Artificial por aqui. Em outubro do ano passado, a gente publicou que a Meta havia anunciado a sua nova tecnologia, a Make-A-Video, um sistema de Inteligência Artificial que gera vídeos curtos ou GIF, a partir do que está escrito. A tecnologia permite que o usuário digite uma série de palavras, como “Um cão vestindo uma roupa de super-herói com uma capa vermelha voando pelo céu”, e então a ferramenta gera um clipe de cinco segundos com a cena descrita.
E o assunto não parou por aí. Com o objetivo de melhorar a busca por podcasts, evitando que conteúdos relevantes deixem de ser conectados com usuários em potencial, a startup italiana Musixmatch lançou uma plataforma para podcasts com transcrição gerada por Inteligência Artificial, que utiliza PLN (Processamento de Linguagem Natural) para melhorar a transcrição, pesquisa, descoberta e compartilhamento de conteúdo dos podcasts. Contando com o apoio da comunidade da plataforma para o refino nas transcrições.
E como tudo isso que vivemos atualmente, como vamos abordar o tema Inteligência Artificial no final de 2023?
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